Algumas dicas para a escolha da profissão


Um dos maiores problemas que atingem os alunos às portas da universidade é a dúvida em saber qual das portas disponíveis atravessar - que tipo de curso realizar, que tipo de profissão escolher. A dificuldade em escolher aquilo que queremos ser está, muitos ainda não perceberam isso, na dificuldade de sabermos aquilo que nós realmente somos. E qualquer escolha profissional deveria estar preocupada antes com a consciência sobre aquilo que sabemos de nós mesmos.

Uma pessoa que queira definir-se a si mesma esbarra sempre no insolúvel limite de palavras para dizer aquilo que, ao contrário de dizer, sente como sendo sua própria essência enquanto pessoa. Mas toda pessoa é um ser humano, e iniciar uma vida em sociedade é saber de que maneira nós, enquanto seres humanos, podemos ou devemos nos relacionar com outros seres humanos. À medida que a criança se desenvolve, ela vai absorvendo inúmeras características dos adultos e das crianças que lhe cercam, a fim de aos poucos ir construindo sua própria personalidade. Isso de fato é evidente: nenhum ser humano nasce plenamente consciente de quem ele seja, mas a sua percepção sobre si vai sendo construída aos poucos pela relação com outros seres humanos. É por esse motivo que os mais jovens se sentem conduzidos desde cedo a se filiarem a algum grupo no qual se identifiquem, não em todos mas nos aspectos principais, por entenderem que apenas sob a inflexão de um grupo a sua personalidade será devidamente reconhecida enquanto tal. Com o passar dos anos, o jovem aumenta o número de relações que faz, os grupos com os quais tem relações, e com isso vai se adaptando aos meios sociais a fim de descobrir que tipo de pessoa ele de fato é e o que quer da vida. Mas já neste momento, com uma boa parte da vida já vivida, não se poderia voltar atrás e refazer escolhas decisivas: elas já foram feitas, e queira-se ou não, vão fazer parte de nossa história.

Se nossa personalidade vai sendo descoberta à medida que nos relacionamos com outras pessoas, o ato de decidir aquilo que queremos ser dificilmente será uma escolha ideal: a chance que temos de nos frustrar com o que desejamos seguir como profissão é muito grande, porque para que pudéssemos escolher com certeza o que queremos, deveríamos antes saber quem de fato somos e quais as nossas tendências, além de sermos capazes de verificar todas as opções que a sociedade nos oeferece para uma vida profissional de acordo com essas nossas tendências - o que na condição de nossos anos juvenis é algo difícil de alcançarmos, se não recorrermos a outras pessoas ou fontes. É nesse sentido que a obtenção de informações sobre carreiras é imprescindível para uma boa escolha, mas estas informações precisam estar bem conjugadas com aquelas outras, que obtemos sobre nós mesmos e que são o primeiro passo para uma boa escolha da carreira profissional.

Como podemos então escolher a profissão a seguir com alguma chance de não errar? É o que tentaremos ilustrar aqui, com base em uma análise psicológica de nós mesmos, possível de ser feita por qualquer um disposto a entender melhor suas próprias motivações na vida. Seguindo esses passos podemos descobrir algo que não sabíamos de início, e que era fundamental para se escolher uma profissão.

1º passo: Identificar na suposta profissão/área que temos em mente cursar na universidade aquilo que nos levou a optar por ela. Por exemplo: eu escolhi tentar medicina por quê? Influência dos pais, de parentes, de amigos, de professores, de algum profissional da área, da mídia? Estou visando o quê com esta profissão: status e expectativa social, mercado de trabalho, realização pessoal e familiar? A depender daquilo que nos influenciou, podemos extrair informações interessantes sobre nós mesmos, que podem ou não nos ajudar a ter ainda mais certeza sobre nossa opção, ou então nos levar a pensar melhor sobre ela. Vamos fazer aqui algumas exemplificações.
Suponhamos que um aluno responda à pergunta acima da seguinte forma: quero fazer medicina porque meu pai é médico, e ele quer que eu continue na profissão. A escolha profissional com base familiar é muito comum, e bastante proveitosa, já que a referência é sempre alguém bem sucedido (quase nunca um pai, ou mãe, mal sucedidos em determinada área insistirão para que o filho siga naquela mesma profissão).
Mas suponhamos que esta referência não exista; ao contrário, os pais indicam algumas possibilidades profissionais, mas não se colocam como detentores da última verdade sobre a escolha que o filho deve fazer. Neste caso, caberá ao aluno decidir se segue as orientações dos pais ou não - e então, como proceder? Alguém poderia responder, pensando sobre o que lhe motiva a esolher medicina, que sua escolha diz respeito ao tipo de trabalho realizado pelo médico: de ajudar as pessoas, de salvar vidas. Se esta é a motivação básica por trás da escolha, então ela é um traço característico da personalidade do aluno: a preocupação em ajudar e salvar vidas. Com isso, já temos um fator importante sobre a pessoa que é o aluno.

2º passo: Avaliado este ponto da personalidade do aluno, em jogo naquela suposta escolha profissional que ele fez de início, podemos avaliar outras profissões que se responderiam àquele mesmo impulso inicial.
Seguindo o exemplo que demos, que outras profissões poderiam se adequar a este ponto de sua personalidade? Bem, o número de profissões capazes de ajudar e salvar vidas é muito grande, porque há a possibilidade de ajudar e salvar vidas tanto direta quanto indiretamente. Vamos dar como exemplo três outras profissões, que podem possuir o mesmo caráter: enfermagem, psicologia e oficial dos Bombeiros. Será que o aluno havia pensado nessas outras opções? Se não, por quê? Naturalmente, nem todo mundo conhece todas as profissões disponíveis, ainda mais nos dias de hoje em que cada vez mais há uma especialização de áreas que antes eram únicas e conjuntas. Mas o segundo passo de quem descobriu sua motivação inicial em se dedicar a uma profissão deve ser conhecer outras profissões que existam e que também poderiam tornar possível a realização daquela motivação. De posse da informação sobre estas outras profissões, ele agora poderá escolher com mais segurança.

3º passo: De posse então das profissões referentes àquele ponto da sua personalidade que lhe motivou inicialmente, o aluno poderá averiguar outros fatores de importância para si mesmo, ao excluir dessas novas profissões que surgiram aquelas que não lhe satisfazem de modo algum. A questão está agora em perguntar: por que elas não lhe satisfazem? Quem conseguir responder com honestidade a esta pergunta, descobrirá novas e valiosas informações sobre sua própria personalidade, que entram em jogo na decisão ou não de uma profissão.
Por exemplo: o nosso aluno em questão, que havia decidido por medicina, ao descobrir outras profissões que poderiam igualmente interessá-lo, se vê rejeitando estas outras opções - enfermagem, psicologia e oficial dos Bombeiros - porque elas não lhe dariam a situação econômica que a medicina lhe dará. O aluno descobre então que há um fator econômico, ligado ao mercado de trabalho, que é determinante para a sua escolha profissional. Uma nova questão surge então: o fator econômico é mais importante que o fator de ajuda social das pessoas? A depender da resposta, a escolha profissional vai se tornando cada vez mais um meio de autoconhecimento.

4º passo: Identificada(s) esta(s) nova(s) característica(s) da nossa personalidade, e de posse da resposta à última pergunta (sobre o que é mais importante na escolha da profissão: o dinheiro, o status, a realização pessoal?), podemos então pesquisar com mais afinco as informações sobre profissões que se referem à resposta que alcançamos.
Por exemplo: se o aluno chega à conclusão de que a situação econômica é mais importante que a ajuda ao próximo, então ele deve pesquisar se de fato a medicina lhe trará esta condição que ele imagina, bem como precisará saber quais os impasses da profissão, e qual o nível de investimento (financeiro e de tempo) que precisará ser feito para se alcançar no fim a condição esperada. Ele precisa pesquisar também se há outras profissões que podem lhe render mais financeiramente, em um prazo mais curto e com menos investimento, como algumas áreas da engenharia, por exemplo.
A experiência nos mostra que quase sempre o que mais ocorre, no que diz respeito à frustração profissional, é a falta de informação sobre as necessidades próprias da profissão, porque nem sempre temos todas as informações de que precisamos para saber como são as coisas na realidade, como a profissão e o profissional se realizam na prática. Como é o dia a dia de um médico? O aluno estaria apto a se dedicar quase 24 horas por dia a esta profissão? Conseguiria fazer cirurgias e curativos sem passar mal? Ou então, teria condições de esperar os 6 anos de faculdade, mais os 2 ou 4 anos de residência, para poder se iniciar no mercado? Buscar mais informações é imprescindível para não se frustrar com o tempo - e neste ponto, os profissionais da área, os professores e os sites sobre a profissão são fontes importantíssimas para suprir essa carência.

5º passo: Depois de feito tudo isso, podemos voltar a nossa opção inicial, e avaliarmos se podemos estar certos de ter realizado uma boa escolha, ou se estávamos equivocados em alguns pontos. O que vai dizer se o aluno fez uma coisa ou outra é apenas a sua própria reflexão: depois desse passo a passo, ele já encontra em si mesmo informações suficientes para decidir com segurança, ou buscar mais ajuda para escolher melhor. Tentamos mostrar com isso que o esforço necessário para optar por uma profissão é um processo que tem de ser relacionado, sobretudo, ao conhecimento de seus talentos, bem como de seus interesses e suas motivações. Este processo de descoberta, no entanto, não é apenas um esforço necessário para termos clareza sobre onde queremos chegar. Mas é também um meio eficaz para descobrirmos as tendências de nossa personalidade, e sermos com isso capazes de aproveitar melhor nossa vida no futuro.

Boa saúde e boa sorte!

Nenhum comentário:

Postar um comentário