Tema I - Começando pelo começo



O maior problema de quem começa a estudar as técnicas de redação é perceber que elas não dizem muita coisa se você não tiver percebido antes o que elas de fato querem dizer. A redação é um tipo de texto escrito que atende a certas características, exigidas do aluno, e que por conta disso precisa, para ser bem realizado, ter a si mesmo compreendido enquanto um texto escrito. O que quero dizer com isso? Quero mostrar a você que apenas se consegue entender o que seja uma redação quem entende primeiro o que seja um texto escrito, e a diferença necessária que há entre ele e aquilo que podemos chamar de discurso falado (ou seja, as nossas conversas do dia a dia).
A linguagem nasceu pela e para a comunicação dos homens. Se olharmos o modo como nos relacionamos com os outros, vamos perceber que nem sempre é possível utilizar a mesma forma de expressão, as mesmas palavras. Quando estamos ao lado de algum amigo, nossa conversa é bastante diferente daquela que poderíamos ter com um professor, por exemplo, ou mesmo com um vizinho ou parente desconhecido. Suspeitamos desde muito novos que determinadas palavras não cabem em determinadas conversas, e isso é algo que fazemos cotidianamente. Quem não entende a diferença entre uma conversa com amigos e uma conversa com a diretora da escola dificilmente vai conseguir se dar bem no contexto social.
Essa diferença, presente no modo como a gente conversa, existe também entre os tipos de linguagem escrita. Dependendo do tipo de texto que se quer produzir, devemos escolher a expressão mais apropriada a cada um. Não dá para escrever em um vestibular como se escreve no diário íntimo, ou com a liberdade que se lê em uma música ou em uma poesia. A redação exige do aluno, fundamentalmente, um tipo de linguagem que tem o nome, todo aluno já ouviu falar, de norma culta ou norma padrão da língua portuguesa. Esse nome, que às vezes se torna um fantasma assustador para muitos alunos, quer dizer exatamente o uso do português que se faz em textos escritos formais, e dentre eles está a nossa redação.
O que se pode fazer, então, para conseguir escrever dentro da norma culta da língua portuguesa? Em primeiro lugar, saber as regras básicas do Português. Estudar Português é uma necessidade de qualquer cidadão brasileiro, mais ainda de alguém que pretende ingressar em uma faculdade. Quanto mais rápido você dominar as regras do Português, mais facilidade você terá para fazer provas, ler textos e interpretá-los, além é claro de fazer uma boa redação. Em segundo lugar, você precisa conhecer o tipo de texto que será pedido para você no vestibular (ou em algum concurso público). Esse conhecimento você adquire lendo redações já feitas para a instiuição a que você pretende concorrer. E por fim, você pode ampliar seu domínio da língua através da leitura (muita leitura, por sinal) dos grandes escritores brasileiros e portugueses. Isso porque você só aprenderá a escrever bem com quem sabe escrever bem. Seguindo esses três passos, acredito, dificilmente você não terá, depois de um tempo, a confiança de realizar bem a redação no vestibular.
Como só dispomos de alguns meses de preparação, vai-se exigir de você uma boa dedicação e aplicação a esses três pontos, sobretudo naquele que mais lhe traz dificuldades. Irei aos poucos trabalhando com vocês esses aspectos fundamentais, e iniciais, da escrita de redações. Obviamente, essa dedicação ao estudo, se realmente você tiver o desejo de conquistar sua vaga, será importantíssima. Neste momento da vida, e ainda mais em nosso tempo, os jovens são cada vez mais distraídos por inúmeras coisas, desde a televisão até as conversas jogadas fora com colegas, na rua ou na internet. Para que você possa alcançar o seu objetivo, de estudar em uma universidade pública, você precisa aprender a estudar: e só se aprende a estudar quando se entende a importância que ele terá para o futuro. O estudo é a porta de entrada do jovem para um mundo mais promissor. Sem ele, de fato, as coisas são bem piores. Comecemos então a nossa dedicação esse ano, em busca da vaga na universidade - em busca, ao que nos cabe aqui, de uma boa redação.


(a) Iniciando o estudo do texto escrito: a narração

Como a redação é um tipo de texto escrito, é preciso que nos acostumemos a ele o mais rapidamente possível. Não faremos, nesse momento, maiores distinções entre a redação e outros tipos de textos. Vamos procurar agora apenas nos acostumar com a escrita.
A escrita, como linguagem, foi inventada para catalogar bens e afazeres, e dessa vontade de catalogar nasceu a vontade de contar histórias, que não são mais que o catalogar de muitos fatos no tempo. A forma estrutural da narração é a forma básica da linguagem escrita, e por isso mesmo começaremos a nos acostumar com ela. Para tanto, sugiro a leitura de três livros ao longo desse tempo de preparação, que serão decisivos para a formação linguística, mas também educativa de vocês. São eles:

1. "Memórias Póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis 
(Para resumo e análise do livro: http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/literatura/memorias-postumas-bras-cubas-analise-obra-machado-assis-700294.shtml)

2. "Recordações do Escrivão Isaias Caminha", de Lima Barreto

(Para resumo e análise do livro: http://www.algosobre.com.br/resumos-literarios/recordacoes-do-escrivao-isaias-caminha.html)

3. "A Cidade e as Serras", de Eça de Queiros
(Para resumo e análise do livro: http://guiadoestudante.abril.com.br/estude/literatura/materia_410536.shtml)

Claro que este período de estudos para o vestibular é sempre muito atarefado, e são muitas as matérias a serem estudadas. No entanto, para quem não possui familiaridade com textos, a leitura desses livros será quase como um requisito prévio para melhor entender e praticar as técnicas de redação. Quem tiver bons exercícios de leitura, não sentirá tanta dificuldade, mas minha prática de aula me tem mostrado que um aluno não familiarizado com a leitura, e leitura de bons livros, terá bastante dificuldade de escrever, sobretudo uma redação. Portanto, indico a todos essa preparação - e mãos à obra, que o tempo voa!



(b) Alguns aspectos básicos para uma melhor compreensão textual

Mais para frente, vamos aprofundar algumas coisas que falaremos aqui mais genericamente, mas por ora o que nos será importante perceber é que todo texto escrito lida com frases, com orações, com sentenças, e enquanto tais, elas possuem algum sentido, algum significado. Por exemplo, uma frase como "O gato está em cima da cadeira" será perfeitamente compreensível à medida que pudermos entender o que é um gato, o que é uma cadeira e o que é estar sobre alguma coisa.
Vamos analisar isso com mais cuidado. Há em todas as línguas uma distinção entre substantivos e verbos, ou seja, entre coisas e ações. Podemos ter entre os substantivos aqueles que são concretos e os que são abstratos, e entre os verbos aqueles que exprimem ações e os que exprimem estados. Quando olhamos de novo a frase acima, vemos que 'gato' e 'cadeira' são coisas, são substantivos, do tipo concreto, e que 'estar' é um verbo, que expressa um estado, uma situação. Para ser possível compreender então o significado da frase, é preciso que saibamos dintinguir todas essas coisas, e fazemos isso muito bem no dia a dia.
Então, qual o problema? É que redações, ou seja, textos mais técnicos, mais formais, não lidam somente com substantivos concretas e com verbos simples, mas sobretudo com ideias e situações bastante abstratas. Por exemplo, na frase "A sociedade precisa encarar a dura queda dos juros com confiança" temos uma variedade de ideias, de substantivos abstratos e modalidades verbais mais complexas que, se não bem entendidos, podem gerar inúmeras complicações tanto para a leitura quanto para a escrita. Você sabe com certeza o que são os 'juros', o que é ter 'confiança', o que é uma 'sociedade'? É por essa razão que uma familiaridade maior com esses tipos textuais é exigida do aluno para a interpretação e para a escrita de redações, e isso só é alcançado com boa leitura.
Os livros que indicamos antes servem bastante para esse fim. Mas como a leitura desses livros é um projeto a médio prazo, a curto prazo podemos inserir na nossa prática diária a leitura compreensiva de alguns tipos de textos menores, como contos ou crônicas. Se você criar o hábito de ler pelo menos um conto ou crônica por dia, sem parar, você vai ver o quanto terá evoluido em um mês! E como a sua vaga na faculdade depende disso, acho muito importante que você possa se dedicar o quanto antes!

Vou deixar aqui links de acesso a alguns desses tipos de texto. Também podem ser lidos os textos que publico aqui no blog, que estão marcados como Opinião.
Link para site com muitos textos de escritores brasileiros e outros: http://www.releituras.com/
Link para um blog com inúmeros artigos e crônicas: http://arquivoetc.blogspot.com.br/
Link das redações feitas para um dos maiores vestibulares do Brasil: Melhores redações FUVEST

No próximo tema, falaremos mais a fundo sobre a redação, suas características e como se preparar melhor para compreendê-la e para escrevê-la. No entanto, as leituras que recomendo aqui são necessárias para que você possa progredir com as técnicas de redação. Claro, a leitura deve ser um prazer, e muitas dessas literaturas são tidas como chatas e sem sentido. Vale a pena sempre ler coisas que agradam a você, mas procure proceder com os textos mais formais exatamente como você procede com esses textos que te agradam. Quando estamos apaixonados e lemos uma carta de amor, por exemplo, aplicamos toda a nossa atenção a ela: lemos cada palavra duas, três vezes, procuramos entender o contexto, o que ficou subentendido, o que não foi declarado; observamos a escolha das palavras, a organização das frases, as partes da carta em relação ao todo, o todo em relação às partes; somos como que capazes de perceber os deslizes, as nuances, os múltiplos sentidos, e as palavras parecem ter cheiro e sabor quando nos inspiram e entendemos o que estão a dizer. É desse modo que devemos ler livros e textos, sobretudo aqueles que são próprios para a nossa formação, como é o caso aqui. É com esse 'amor' que conseguimos vencer as palavras difíceis e as frases confusas, buscando pensar em respostas. Tudo isso lhe será muito útil. 
E não tenha pressa: a leitura é o primeiro passo para a escrita, portanto, é de ler que precisamos agora.
Então, vamos à leitura!

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